Eu creio que a melhor capacidade de um profissional é conseguir relacionar assuntos aparentemente não relacionados de modo a conseguir uma visão mais ampla do mercado.
Esta semana um escritor brasileiro que mora no exterior me questionou se era mais interessante lançar aqui ou lá. O curioso é que há menos de um mês outro já havia me feito a mesma pergunta. O desta semana mora no norte da Europa, de onde estão surgindo grandes nomes da literatura policial atualmente, enquanto o anterior nos Estados Unidos. Agora, será que eu preciso comentar?
Eu até entendo que a dúvida tenha uma causa seja simples: mesmo acostumados à língua, é sempre mais simples escrever em sua língua natal. O problema é que para autor nacional fazer sucesso no Brasil ele terá de literalmente tirar leite de pedra. E o pior, isso não acontece somente na literatura.
Mesmo o cinema nacional, apesar de estar tentando crescer, ainda está engatinhando. E pode acreditar que continuará assim por um bom tempo!
Por quê? Simplesmente porque não existe empreendedorismo algum aqui!
Um exemplo disso foi uma entrevista que eu assisti já há algum tempo.
No caso o artista havia acabado de lançar um filme em circuito nacional – e vamos ser honestos, quando filme nacional entra em cartaz ele entra em muito menos cinemas do que os blockbusters importados – que esperava ser um sucesso.
A trama? Uma versão nacional da ideia por trás de O Mentiroso, Liar Liar, de Jim Carrey, lançado em 1997, só que no lugar de advogado, o protagonista era um político mentiroso (alguém conhece algum que não é?) que se vê obrigado de uma hora para outra a só falar a verdade. Depois ainda tem gente que reclama da falta de originalidade de nossos escritores…
Porque na minha opinião, enquanto nosso cinema precisar do governo para bancá-lo, ele definitivamente não vai a lugar nenhum!
E com a literatura será a mesma coisa!
Estamos engatinhando em relação a outros países. A figura do agente literário é quase inexistente aqui no Brasil. Não existe nenhum tipo de empreendedorismo por parte das editoras no lançamento de ficção nacional.
Das grandes especialmente, que preferem gastar o triplo comprando os direitos da obra de um autor internacional, cuja resposta já pode ser verificada e, devido ao empreendedorismo – alheio e internacional evidentemente – ela pode até estar em processo de se tornar um filme ou série de TV, coisa que praticamente inexiste aqui no Brasil, e que gera um marketing que, além de sem custo, é muito superior ao pago.
Agora vamos ser honestos. Se em parte a culpa disso acontecer na literatura nacional, como ocorre com o cinema, é da falta de empreendedorismo nas editoras, assim como da falta de interesse das livrarias de botar em destaque o produto nacional, isso na realidade é um reflexo da falta de interesse, e porque não dizer de certo preconceito, do leitor brasileiro. Prova disso que é muitos afirmam peremptoriamente que “qualquer livro nacional é ruim” mesmo só tendo lido os que eram obrigados no colégio.
Por outro lado, contudo, também sou obrigado a afirmar que o que os autores estão escrevendo, apesar de eles acharem que é a oitava maravilha do mundo, em sua maioria não passa de uma cópia mal feita do que tem surgido lá fora.
Esta situação, por sinal, é resultado de uma tendência dos autores, em especial os iniciantes, de achar que basta publicar para seu livro ser um sucesso. Assim, ao invés de se investirem em si mesmos e em suas obras, procurando análises de texto, leituras críticas profissionais, e mesmo coaching durante processo de escrita, eles preferem, como eu li recentemente num blog literário “pôr a mão no bolso e, com sete mil reais, realizar seu sonho”. O resultado? Na maioria das vezes o sonho vira um pesadelo!
Até porque, como eu já comentei mais de uma vez, não só o objetivo do escritor não deveria ser publicar, mas ser lido, pois só assim ele conseguirá desenvolver uma carreira; como também se percebemos que o resultado da equação escritor, editor, leitor não está satisfatório, e venhamos e convenhamos, as demais partes não vão mudar, a única maneira de fazer com que o resultado final seja diferente é nós, como escritores mudemos. Alguém tem de começar, afinal de contas.