QUANDO O LIVRO NÃO VENDE, A CULPA É DE QUEM?

Já faz algum tempo que eu li um artigo dizendo que se o livro vende foi a área editorial que acertos, mas se ele encalhou a culpa é da área comercial e do marketing.

Isso, na realidade, não é muito diferente de, nas editoras pequenas e médias (se bem que já vi isso acontecer em grandes), quando o livro vende foi acerto da editora, mas quando encalha foi culpa do autor.

Como além de escritor já fui sócio de uma editora (pequena) na qual não só fui editor, mas também cuidei de marketing e vendas, eu nunca tive de lidar com esse problema. Inclusive, é muito comum no Brasil, tanto que é quase cultural, de empurrar a culpa para alguém ao invés de resolver o problema e tentar aprender com ele.

É evidente que a performance de um livro depende de toda a cadeia. Afinal, se quando ele vende os louros devem ir do autor até o livreiro, não ficando só nas mãos do editor, como muitas vezes acontece, mas…

E QUANDO O LIVRO NÃO VENDE NO COLO DE QUEM RECAI O ERRO?

Desconstruindo uma equação de venda determinada para a área editorial, sabemos que o leitor compra o livro porque este chamou sua atenção.

Agora, não interessa se foi o gênero literário que o leitor gosta ou está na moda, se o estilo do autor que o deixou curioso, se a capa ou o título fizeram o livro se sobressair na prateleira da livraria, se o mercado está falando dessa obra… Na verdade eu poderia continuar com diversos exemplos, mas o importante aqui é o leitor só compra o livro que ele sabe que existe, e para isso é necessário que haja divulgação, marketing, uma parceria da editora tanto com as distribuidoras como com as livrarias, as diversas mídias que atualmente falam do mercado editorial e evidentemente um bom lançamento.

Mas e se o livro tem tudo isso e mesmo assim não vende em quem recai a culpa?

Será que é no escritor, que não conseguiu passar a mensagem que queria? Que não conseguiu chamar a atenção leitor desde as primeiras páginas? Que escolheu um tema que não tem apelo? Que não conseguiu criar protagonistas chamativos o bastante?

Uma vez mais a lista poderia seguir quase indefinidamente com cada pequeno aspecto desde a produção literária até o dia, mês e ano em que o livro foi lançado, mas mesmo que todas as alternativas anteriores estiverem corretas (ou erradas) não seria responsabilidade do editor ler o original, analisá-lo de modo que, sem toda a poesia que existia no trabalho do editor a coisa de meio século, ele determine o lançamento acertando o alvo de maneira definitiva?

Ou será que, por sua função ser analisar o momento do mercado e ler o original de modo a tentar descobrir se aquela história tem o que o público está buscando naquele determinado momento – a qual como eu comentei anteriormente aqui por tratar elementos humanos não é exata – parte da culpa pelo erro, portanto, não caberia ao editor?

Eu me recordo de haver comentado mais de uma vez a respeito de analises de mercado feitas em grandes feiras internacionais, que falavam de tendências do ano seguinte, as quais não aconteceram. Se considerarmos, estas análises não passam de palpites a respeito de amostras e elementos de mercado, feitas por editores, que não deram certo.

Tudo isso, inclusive, me recorda uma análise que fiz sobre a questão do momento de lançamento de uma obra, em cima de um comentário de Ridley Scott sobre o sucesso de vendas do DVD do filme A Lenda, que ele dirigiu um 1985, após o lançamento de O Senhor dos Anéis, quinze anos depois.
Numa entrevista ele disse que “é muito bom ver que esse sucesso, pois mostra que sou um diretor a frente de meu tempo, mas preferia que o filme houvesse sido um sucesso quando foi lançado, pois é isso que constrói a carreira de um diretor”.

Por que eu estou comentando a respeito dessa colocação?
Porque algo semelhante aconteceu com um gênero que fez muito sucesso há alguns anos, a Distopia, que recentemente levou diversos livros ao cinema.
Há quase vinte anos atrás, em 2008, foi lançado o filme Cidade das Sombras/City of Ember, também baseado num livro de distopia e, apesar de tudo, nem o filme se tornou um blockbuster, nem o livro um best-seller, como aconteceu com seus sucessores mais recentes.

Assim, a conclusão é que para que se aumente a possibilidade de sucesso de uma obra, todos os elementos da produção, do escritor, passando pelo leitor crítico, o editor, o revisor, o processo de produção, o marketing, o lançamento, a distribuição e as vendas, devem estar não só com o mesmo objetivo, mas também falando a mesma língua. E qual é ela? Você pode estar se perguntando. Evidentemente que A DO LEITOR!

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