Já faz um tempo que nós postamos a primeira e a segunda partes desse artigo, mas dia destes eu vi uma discussão de escritores discorrendo sobre como a pior coisa do mundo era mudar um texto já pronto para que o mesmo se enquadrasse num concurso e resolvi escrever mais a respeito.
O interessante foi que enquanto um dizia que odiava ter de cortar texto, outro comentava que achava pior ter de acrescentar ao texto pronto. E todos concordavam que normalmente ao fazê-lo o produto final inferior ao original.
O interessante é que, pelo tom da conversa, eles estavam falando de uma ‘Coletânea’. Para lembrar, pois eu mesmo já expliquei aqui a diferença dos ‘Concursos’, em que o original é enviado e se escolhido, se torna um romance publicado pela editora e dos quando o mesmo texto é pequeno, como um conto ou noveleta, e o livro final publicado sai com material de diversos autores. Isso não é ‘Concurso’, o nome disso é ‘Coletânea’.
Mesmo assim tal conversa me lembrou de três episódios bastante instrutivos que eu presenciei ou aconteceram comigo:
Primeiro quando eu escrevia para uma revista. Eu me recordo que depois da matéria ser considerada pronta, ela retornava diversas vezes para ser cortada, pois a mesma não cabia no espaço a ela destinado.
O processo no caso se chama ‘Copidesque’, coisa que todo escritor deveria saber fazer, e se não sabe, deveria contratar quem saiba para fazer. Pois na maioria das vezes não é simplesmente cortar, mas sim adaptar. Reescrever toda a história.
O segundo aconteceu numa palestra que eu assisti durante um evento. Um escritor comentou que a diferença de número de páginas da edição de seu livro publicado por demanda e da publicada por uma editora tradicional se dava porque o editor havia achado melhor que diversas páginas houvessem sido cortadas, pois segundo ele, a editora achava que “elas não faziam diferença na história”, o que ele, autor, considerava um absurdo. Tanto, que perguntou ao público o que eles achavam.
Sabe qual foi o resultado? Um editor que também é escritor e que estava assistindo levantou e comentou que a ação do editor provavelmente estava correta, deixando o autor furioso.
E o pior é que a resposta está correta! Como criadores, normalmente nos perdemos no aspecto global da história, achando que tudo o que escrevemos é essencial, quando não é.
Eu mesmo posso dizer que mais de uma vez isso já aconteceu comigo! Eu imaginei que seria interessante o foco da história mudando do protagonista para o vilão e escrevi a mesma estruturada um estilo que gosto de chamar de “jogo de xadrez”.
Quando passei para um leitor crítico profissional de minha confiança, uma das colocações era exatamente que “toda a parte do vilão é desnecessária e não agrega nada à trama”.
O que eu fiz?
Após fazer uma cópia do arquivo original de segurança, criei uma versão sem as partes do vilão. E confirmei que ele estava correto. Então eu reescrevi a história para readequá-la ao novo modelo e apresentei a segunda versão ao editor, a qual foi publicada.
Veja bem, não é que cortar ou acrescentar não seja desagradável, mas são tarefas inerentes ao trabalho de escritor. Se você não gosta não quer fazer nem contratar alguém para isso, escreva outro texto. Ou desista de escrever.
Porque eu posso confirmar que, quando organizava e editava coletâneas pela Tarja Editorial, editora que fundei e era sócio, não só muitas vezes recebia material que claramente não tinha a ver com o tema da coletânea, como já recebi o mesmo texto para duas coletâneas de temas diferentes, mostrando não somente um enorme desrespeito do autor para com a editora, que ele espera que publique seu texto, como um imenso ego, o qual o impede de ver que, na verdade, não é seu texto que não está pronto para publicação, mas que ele ainda não é profissional o bastante para ser publicado.
É exatamente por esse motivo que aqui no Aliteração, nós oferecemos serviços de Leitura Crítica e de Copidesque. Pois além de querermos ver o mercado de literatura nacional prosperar, também temos esperança de que os autores compreendam que seus não somente seus textos, mas também eles devem melhorar para serem aceitos por uma editora.