O Tempo Desconjuntado, de Phillip K. Dick

Traduzido por: Bráulio Tavares, Companhia das Letras (selo: Suma de Letras, 2018, 272 páginas

O ano é 1959 e Ragle Gumm vive no subúrbio de uma tranquila cidade americana. Para ganhar a vida ele há mais de três anos ele utiliza uma estranha capacidade de analisar dados aparentemente não corelacionados para ganhar o prêmio diário do concurso de um jornal local chamado “Onde o Pequeno Homem Verde será o próximo?”. Sua vida pacata começa a mudar quando coisas normais, como uma barraca de venda de refrigerante, desaparecem, sendo substituídos por pequenos pedaços de papel indicando o que eram (no caso do exemplo “BARRACA DE REFRIGERANTE” em letras maiúsculas).

O mistério se aprofunda quando Gumm, além de descobrir uma revista com um artigo sobre Marilyn Monroe, de quem eles nunca haviam ouvido falar, e uma lista telefônica com números inexistentes num terreno baldio próximo de onde mora, após ajudar o cunhado montar um antigo rádio de cristal galena para seu sobrinho, pois apesar de existir TV, não existe rádio na cidade, começa a ouvir estranhas transmissões feitas a aviões que passam sobre eles. Para piorar o vizinho de Gumm, Bill Black, parece saber muito sobre esses eventos do que admite e começa a se preocupar com a sanidade de Ragle.

Quando ele, procurando descobrir o que há de errado com a realidade que o cerca, tenta escapar da cidade, termina descobrindo que não vive em 1959, mas numa Terra futura por volta de 1998 e que ele é mantido em seu pequeno “casulo” por um motivo muito especial!

Se este pequeno relato já o fez pensar em O Show de Truman (1998) ou talvez em Big Brother (1997), saiba que, talvez até antecipando tais shows, Philip K. Dick escreveu essa história ainda em 1959. O que, inclusive, faz com que a coincidência das datas chegue a ser perturbadora.

Publicada no auge da tensão da Guerra Fria O TEMPO DESCONJUNTADO mostra claramente a sociedade de quando foi escrita, quando a paranoia a respeito dos soviéticos e a exploração espacial eram temas de conversa no café ou na folga do trabalho.

Apesar de inteligente e capaz de fazer o leitor questionar os limites da realidade, a trama em torno da existência de Ragle Gumm tem seus altos e baixos, podendo parecer meio lenta no início. Mesmo assim, quem conhece a obra de K. Dick (autor de O Homem do Castelo Alto, Androides Sonham com Ovelhas Elétricas, Realidades Adaptadas e Sonhos Elétricos, que eu, inclusive, recentemente resenhei aqui) sabe que o mistério das páginas seguintes é o que suficientes para estimular a leitura.

O TEMPO DESCONJUNTADO vale a pena! Seja você fã de Ficção Científica, de PKD ou só um leitor interessado numa boa história!

Deixe um comentário

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Imagem do Twitter

Você está comentando utilizando sua conta Twitter. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s