Há um tempo atrás eu estava num círculo de amigos, muitos ligados a literatura, e um dos tópicos levantados na conversa foi exatamente o Crowdfunding, o que terminou me levando a escrever a respeito aqui, de uma maneira mais completa e complexa.
Há uns três anos, quando lia a respeito numa revista especializada, recordo-me de haver pensado: a literatura, uma vez mais, será uma das últimas a se adaptar a essa nova plataforma.
Para quem não conhece (eu sei que pode parecer estranho, mas explicar sempre é bom) Crowdfunding é um termo inglês que normalmente é traduzido como ‘financiamento coletivo’ e consiste na obtenção de capital para projetos e iniciativas através de pessoas físicas interessadas no assunto.
Apresentando de um modo mais simples, alguém cria um sistema em que as pessoas podem apresentar seus projetos para interessados no assunto, e estes fariam ‘adiantamentos’ através dos quais o projeto poderia sair do papel.
Um dos usos pioneiros de financiamento coletivo de artistas foi, por exemplo, a campanha realizada pela banda britânica Marillion para produzir álbuns e financiar turnês em 1997. A indústria de cinema e documentários também iniciou projetos similares para a produção de filmes.
O problema é que, ao menos no Brasil, a literatura ainda não conseguiu se adaptar totalmente a este tipo de plataforma, especialmente se compararmos a outras mídias.
Por que?
Porque a ideia é que não só não basta você conseguir o valor necessário para produzir os livros que você entregará no final do Crowdfunding, mas também que, caso o valor seja superior ao necessário, o restante do dinheiro não seja simplesmente embolsado pelo autor e pela editora, como eu já vi acontecer. Isso é completamente contra a ideia básica por trás do Crowdfunding.
O objetivo é que, como alguns projetos mais bem direcionados mostraram, com o valor total pedido, se consiga cobrir todos os custos de produção, e ainda se publique duas, três, ou quatro vezes mais livros do que os que serão entregues aos mecenas (pessoas que apoiaram o projeto). Deste modo, com o dinheiro da venda deste excesso de livros, um segundo projeto literário, ou uma segunda edição no caso de uma boa resposta do público, consiga ser financiada.
Isso se chama planejamento. Afinal de contas, para que serve uma resenha, afinal de contas, se não existem livros no mercado?
Sobre outras mídias, como jogos, por exemplo, para mostrar como a literatura brasileira está perdida em relação ao Crowdfunding, o valor arrecadado por alguns projetos é muitas vezes quarenta ou cinquenta vezes maior do que nos projetos literários.
E isso falando do que acontece aqui, porque nos Estados Unidos já houve casos de projetos de jogos, só para manter o exemplo. que deram tão certo que o valor arrecadado foi superior a um milhão de dólares, provando que uma vez mais estamos engatinhando nesta nova realidade.
A conclusão é que, como acontece na maioria das vezes, não só os brasileiros precisarão se adaptar a esta nova plataforma de financiamento, como também deverão aprender a planejar de modo a conseguir fazer que o Crowdfunding seja um meio para obtenção de um fim, e não o próprio fim do projeto, como ainda está acontecendo.
Caso você queira conhecer, algumas plataformas de Crowdfunding são o Catarse, o Kickante, a Behfeitoria e a Entropia Coletiva. E se você tiver um projeto e precisar de aconselhamento, basta nos chamar.