Goebbels e o marketing literário

Ao ler este título você deve estar pensando: FALA SÉRIO! Será que este cara está maluco?

Bom… ainda não.

Acontece que Joseph Goebbels não só foi Ministro de Propaganda do Terceiro Reich durante a Alemanha n@zist@, como também foi autor da famosa frase “Uma mentira mil vezes repetida se torna uma verdade”, e como eu gosto de dar crédito a quem merece, apesar dos pesares, fica o nome do autor da frase.

De qualquer modo o assunto veio à tona quando um escritor me questionou a respeito do marketing literário que está sendo feito atualmente e de uma crítica que ele tinha lido a respeito, daqueles escritores e editoras que, para chamar leitores, conseguem maquiar um Livro Mais Vendido em algum lugar e em cima disso montam seu comercial. Eu me recordo, inclusive de dois casos desse tipo de “marketing” que só de ouvir vão deixar você sem acreditar.

No primeiro, o autor indicava (e as vezes até mostrava) que a venda do livro na Amazon estava em segundo lugar no gênero em questão, só abaixo de (nada mais, nada menos) que Guerra dos Tronos.

Eu sei. Você deve estar pensando “quantos livros ele deve ter vendido para estar logo abaixo de um best-seller como Guerra dos Tronos. Espere um momento, porque no segundo o autor dizia que seu livro estava não em segundo, mas em primeiro lugar em vendas do gênero na Amazon do que Harry Potter.

Ao ver tal farsa (exatamente. FARSA) logo pensei em dizer que aquilo era ótimo e sarcasticamente questionar quando a BBC faria uma série do livro em questão, ou quem sabe quanto milhares de dólares ele devia estar ganhando.

Isso, pois a informação havia sido tirada de um mecanismo que claramente pegava as informações estatisticamente sem analise. O sistema, por exemplo, se renovava de tempos em tempos em cima de um determinado dado (mais vendido do dia, da semana, do mês), ou seja, pegar um dado aleatoriamente não significa que o mesmo será real, ao menos a longo prazo. Diferente, portanto, de dizer que ‘tal livro esteve na lista “dos mais vendidos do NY TImes” por 10, 20 ou 30 semanas’.

Muitas vezes o sistema pode mostrar o livro mais vendido do dia e, por ter vendido um exemplar contra nenhum dos demais títulos, ele aparece, apesar de ter vendido só um, em primeiro lugar, sendo os demais lugares sendo colocados devido a vendas reais. Creio que já dá para querer ver onde eu quero chegar, não é?

De qualquer modo, eu terminei ‘ligando os pontos’ de modo a conseguir uma visão mais ampla quando assisti alguns comerciais de séries de TV que as indicavam como “6 vezes votadas como as séries mais assistidas” ou como “a mais assistida nos EUA e no Brasil”, ou ainda como “a série mais vista do mundo”.

Veja bem, este tipo de marketing, bastante comum atualmente, trabalha a questão da qualidade pela quantidade, deixando uma mensagem de que ‘se algo é “o mais lido” ou “o mais visto”, deve ser bom’.

Ou seja, nada tão diferente da ideia original de Goebbels, que era que, mesmo sendo uma mentira, se algo é repetido à exaustão, termina entrando no inconsciente da pessoa e ela passa a acreditar naquilo como real, e os pequenos estão se aproveitando para tentar tirar uma lasquinha.

Não que ser um best-seller não possa indicar qualidade, mas isso também está longe de ser uma verdade absoluta. Até porque ser bom e ter qualidade não quer dizer que você, eu ou qualquer outra pessoa goste. Livros, como séries de TV, tem personagens com que podemos, ou não, criar empatia; uma história, com a qual podemos, ou não, nos identificarmos; uma trama que podemos, ou não, gostar.

E em livros é ainda pior, pois apesar da qualidade podemos não gostar do estilo do autor, que nada tem a ver com qualidade, mas simplesmente com gosto pessoal.

E não me venha com o clichê de que ‘todo mundo estará falando disso, menos você’ que era se não me engano o ponto do marketing inicial do BBB ou do livro da Bruna Surfistinha, pois não se interessar ou não gostar não faz você não ter opinião.

Eu, inclusive, lembro de que comentei a respeito com um amigo dizendo que “todo mundo que leu o Veneno de Escorpião foi enganado por um golpe de marketing bem feito como um idiota” e, quando ele me respondeu que havia lido (como a desculpa de ser uma análise social), eu simplesmente respondi “eu não retiro minhas palavras, se você quer usar essa desculpa para se sentir melhor, por mim….”

Eu me questiono se Goebbels tentou repetir umas dez mil vezes que os nazistas ganharam ou iriam ganhar a guerra. Não interessa, na verdade, por que tendo ele feito ou não, não aconteceu.

Mesmo assim, como o ponto aqui não é só criticar, mas dar uma opção, uma resposta à pergunta de “como fazer o marketing sem precisar apelar para essas mentiras” é:

Tente mostrar a seu futuro leitor os pontos fortes de sua história. Fale do que é essencial na trama do seu livro, como são os PROTAGONISTAS, ou fale se alguma reviravolta mirabolante da história.

Ou seja, chame atenção para a história, e não para o fato de que, numa segunda feira de madrugada uma compra feita na Amazon na Indonésia colocou seu livro como ‘primeiro lugar em vendas’, mesmo que só por algumas horas.

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