Cada vez mais ouvimos falar de Inteligências Artificiais capazes de escrever livros e até ilustrá-los (já houve, inclusive, um caso de um livro infantil totalmente escrito e ilustrado por uma IA que foi colocado à venda, tudo em um dia), mas então, será que nós escritores estamos fadados à extinção?
Bom, parodiando a resposta de Maverick (Tom Cruise) à colocação do Almirante Chester Cain (Ed Harrys) quando, no início do filme Top Gun – Maverick, ele diz que pilotos como Maverick eram uma raça fadada à extinção, a resposta dele foi “Talvez. mas não hoje!”
Isso, pois ainda não fomos capazes de criar IAs capazes de pensar efetivamente, de criar (ainda bem). O que elas ainda estão fazendo é simplesmente copiar. Talvez elas consigam, ao contrário de nós, usar como base milhares de fontes, não de uma ou duas, mas efetivamente copiam. E copiam partes do texto, não as ideias por trás deles.
Porque copiar uma ideia, uma premissa, é algo natural. O próprio Joseph Campbell colocou em seu livro “O Herói de Mil Faces”, que só existe uma história basicamente, a Jornada do Herói, e todas as demais seriam copias desta. Apesar de correta, a colocação é um tanto exagerada. Ele tomou uma liberdade poética, pois a Jornada é, realmente, é uma estrutura básica na qual podemos encaixar a maioria das histórias (existem outros estudiosos, na verdade, que dizem que as estruturas são três: a Jornada do Herói, o Rapto da Donzela e o Trickster. Mas isso é assunto para outro artigo), e não efetivamente uma história.
De qualquer modo, o que acontece na mente do ser humano ao ter uma ideia lendo um livro ou mesmo assistindo a um filme ou série é descobrir um conceito, uma ideia básica, primordial por trás de uma história (ou parte dela, podendo mesmo ser uma simples cena) e em cima disso criar outras histórias, variações originais sobre essa ideia.
Veja por exemplo a saga Star Wars. A ideia por trás da trilogia (a original), é que o antagonista da história e seu protagonista, respectivamente Darth Vader e Luke Skywalker, vivem a mesma história arquetípica de Cronos e Zeus. No mito grego, com medo de ser destronado devido a maldição de um oráculo, o rei dos Titãs engolia os filhos ao nascerem. Ele comeu todos, exceto Zeus, que a mãe escondeu. Quando este cresceu, vingou-se de seu pai, tomando assim seu lugar como Senhor dos Deuses. Ou seja, se analisarmos a ideia por trás da trilogia original de Star Wars, a relação de Darth Vader e Luke Skywalker, veremos que George Lucas bebeu muito do mito grego acima mencionado (até ajudado pelo próprio Joseph Campbell, de quem era amigo).
A questão é exatamente esta. “Beber de uma fonte” não é simplesmente copiá-la, mas criar em cima dela. O que ainda acontece com a IAs, em especial a ChatGPT, que aparentemente se mostrou capaz de gerar textos convincentes, causando, inclusive, um alvoroço no meio editorial, foi que a mesma fazia (ou faz) isso cometendo plágio.
Segundo análises, inclusive, alguns textos que a IA “criou” eram cópias praticamente literais de outros textos, só modificando algumas palavras por sinônimos. Mesmo textos mais “originais”, na realidade, ainda assim não eram tão modificados a ponto de impedir suas identificações como cópias. Existem sutilezas na estruturação do texto e construção das frases que quem criou identifica pois é algo que uma IA ainda não conseguiu discernir ou mesmo modificar para disfarçar a cópia, ou seja…
O mesmo acontece com as IAs que criam imagens a partir de textos (essa é para os ilustradores). O que elas fazem, na verdade, é processar (as vezes ilegalmente, pois não pagam Direitos Autorais) diversas imagens da internet, criando assim um ‘banco de dados’ que usam para “criar” uma cena. Deste modo não há, como acontece com o ser humano, um elemento de criação. O que acontece é que elas simplesmente criam “um quebra-cabeças” com as partes copiadas de diversas outras imagens. O processo criativo de um ilustrador usa quase o mesmo princípio mas a partir da capacidade de transformar e a criatividade do que pesquisou o que já existe, em realizar um trabalho original gerado por sua capacidade transformadora e visão artística.
Como já coloquei então, a resposta é que, por enquanto ao menos, os seres humanos ainda são as únicas “entidades” capazes de criar a partir de uma ideia. Vamos esperar que, ao invés e tentar criar uma IA capaz de pensar e aprender por conta própria, esses gênios da informática percebam que a função das máquinas ,é e sempre será, servir à humanidade. Porque senão o que eles materializarão a ideia do filme, criando uma SKYNET, que como já sabemos, seria o caminho da destruição da humanidade.
Se encararmos a IA como uma ferramenta, o uso dela deve ser consciente no sentido de proporcionar como um auxílio para progredirmos positivamente e não somente como uma “muleta” para que deixemos de pensar e criarmos, sobretudo, de evoluir o bom senso que sempre são perdidos a toda novidade consumida sem critério.