Guerra sem fim, de Joe Hadelman – Resenha de livro

Editora Aleph

Apesar de, como leitor, eu preferir a fantasia à ficção científica, resolvi dar uma chance para o Guerra Sem Fim. Até porque eu sempre gostei de livros de guerra e como já havia lido dois clássicos da ficção científica militarista, Tropas Estelares (do qual eu não gostei tanto) e Ender’s Game (do qual eu gostei muito), resolvi dar uma chance.

Sem contar que na contracapa tinha a menção do Willian Gibson, escritor que gosto e respeito, de que aquela era “a história de guerra mais precisa e dolorosamente genuína que já li.”, então…

Quando comecei a leitura, a primeira coisa que me chamou a atenção foi que a história é em primeira pessoa. Seja como escritor ou como leitor prefiro a terceira pessoa, mas tenho que dizer que a leitura não me incomodou. Mesmo assim, apesar de muitos profissionais do mercado comentarem que esse é um estilo de escrita na qual criar empatia com o protagonista é mais simples, no caso isso não aconteceu.

Apesar de a história em si ser interessante, achei a narrativa muito seca, com o protagonista narrador contando a história de uma forma quase jornalística, sem apresentar seus pensamentos, seus sentimentos, que são elementos que criam essa relação do leitor com o personagem.

Falando a respeito da trama, Guerra Sem Fim apresenta uma guerra que dura quase um milênio, pois quando os seres humanos estão colonizando “as estrelas”, eles deparam com uma raça alienígena e entram em guerra com ela. E como eles viajam em velocidades próximas da luz, o tempo passa de maneira diferente para o viajante (o protagonista), do que para o resto da humanidade. O que para ele não passou algo como uma década, para a Terra se passaram mil anos.

Agora, sobre a questão da guerra, achei o livro absolutamente pobre (creio que o Willian Gibson não deve ter lido muitos livros de guerra, pois os que eu li são muito melhores). O protagonista participa (se muito) de três combates durante esses mil anos, e achei-os triviais, e jornalísticos, sem praticamente nenhum elemento humano (ou alienígena) que possa me remeter a sentir algo a respeito dos mesmos.

Me lembrou, inclusive cheguei a comentar isso com um amigo, a descrição da guerra do Vietnã inclusive, o escritor é um veterano) apresentada no Forrest Gump. Ao invés situações de pura tensão, stress e outros elementos ligados ao combate, temos, como no caso de Forrest Gump, que mostra a guerra do Vietnã como se eles estivessem passeando pelo país atrás de um tal de Charlie (Victor Charlie, ou VC, que eram como eles chamavam os vietcongs).

No caso do Guerra Sem Fim, não existe sentimentos como ansiedade, medo ou incerteza pela batalha vindoura, só tédio. E quando a batalha acontece a narrativa é morna.

Um ponto positivo no livro, contudo, foi a crítica social. Normalmente não gosto desse tipo de coisa, tema comum nos livros de FC da segunda metade do. século XX. Isso, porque muitos autores do gênero preferem apresentar a crítica social do que desenvolver o personagem, que é um dos elementos que mais geram empatia e conexão com o leitor. O protagonista é jogado numa situação (que é a deixa para a crítica social) e vai sair da situação do mesmo jeito que ele entrou (é o que acontece no caso de Guerra Sem Fim) de modo que não se cria ligação com o personagem.

Mesmo assim achei a parte de crítica interessante, atual até, apesar do livro ter sido lançado a quase meio século. Ela se divide em basicamente dois focos:

A crítica social sobre a falta de necessidade da guerra, que no caso é longínqua, como a do Vietnã, parecendo irreal para quem está longe da mesma (que é apresentada mais no final do livro).
Sobre as mudanças que a sociedade vivenciava quando o livro foi escrito em meados da década de 70. A partir do momento em que o protagonista vai para a guerra e retorna para Terra, além de entrar em contato com soldados mais novos, só então percebe as mudanças na sociedade da qual ficou afastado. Ele narra as mudanças na língua, a importância da aceitação, depois da normalização e finalmente da obrigatoriedade da homossexualidade, mostrando inclusive o perigo do extremismo, independente do lado engajado. Ao final, tanto a homossexualidade assim como a heterossexualidade, são aceitas.

Até porque no fim (spoiler alert) a humanidade não está mais copulando para procriação, mas apelando para a clonagem para criar indivíduos “perfeitos”. Ainda falando no final do livro (spoiler alert) quando o protagonista descobre que sua parceira usou de um estratagema para sobreviver durante esses mil anos, buscando assim criar algum sentimento de catarse, com um “final feliz”, particularmente achei o finalzinho muito forçado. Mas é, no caso, minha opinião.

Deste modo, apesar de ter ganhado prêmios como o Hugo, o Nébula e o Locus, particularmente achei Guerra Sem Fim uma leitura tanto enfadonha e não o indicaria. A não ser para quem está acostumado e gosta desse estilo de FC com crítica social.

Gianpaolo Celli é Pós-Graduado em Gastronomia no curso Cozinheiro Chef Internacional, SENAC São Paulo, Bacharel em Administração de Empresas pela Pontifícia Universidade Católica (PUC), Ex-editor e co-proprietário da Editora Tarja, Analista de Marketing, Tradutor, Leitor Crítico & Preparador de textos e Storyteller. Autor dos livros Predadores, Caminho de Santiago e tantos outros.

E-mail: giancelli@yahoo.com

Linkedin: https://www.linkedin.com/in/gianpaolo-celli-9462a0b1/

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