Série de 8 episódios de 46min, 2022, Netflix
Série original em quadrinhos, publicada em 1990 a 1996 no Brasil, 72 edições.
A série que foi criada nos anos 90 ainda, mas com certo ar de anos 80 com seus elementos visuais, teve uma trajetória um tanto tortuosa para a mídia de filmes e séries para tv. Houveram algumas produções que tentaram espelhar o mais próximo que era as histórias do mundo de Sandman. Foram produções um tanto sofríveis, algumas até amadoras. Essas produções denotavam o quanto a série impactou os seus milhares de fãs e que ansiavam por um desdobramento de suas histórias, com o devido tratamento que ela exigia.
Felizmente, por conta do aumento da distribuição das produções de filmes e séries em no formato streaming, tudo quanto era tipo de roteiro que sejam atrativos, foram sendo feitas para o crescente público dessa mídia. No meio desse boom, surgiu a oportunidade de ser finalmente ser feita na versão mais decente para TV.
Obviamente, fã que é, especulava o quanto iriam filmar de forma fidedigna algo que era passível da visão artística de quem as adaptou para a TV. Pois havia o receio e a desconfiança se fariam uma produção digna da obra que marcou a carreira de Neil Gaiman.
Fez-se uma boa propaganda e as inevitáveis polêmicas quanto à escolha do elenco. A começar pelo ator principal e também da mudança e adaptação para gêneros sexuais e raciais, diferentes da obra original.
É até aceitável que estavam seguindo tendências, onde certos personagens originalmente eram de outro gênero racial e sexual, trouxe atuações interessantes mas algumas que poderiam ser melhores. Até mesmo o criador, Neil Gaiman, declarou que sua obra tinha aspectos “wookie”, ou seja não importava que gênero fosse o personagem, mas que o que for melhor para se tornar uma produção que chame mais atenção, ele próprio não se opôs a certas mudanças.
Mesmo que tenha passado tanto tempo desde seu lançamento, é o tipo de história que ainda cativa aos fãs contumazes a até a geração mais nova. Particularmente é uma série, seja na forma de HQ ou nessa versão mais recente, Sandman é uma das poucas HQ que acompanhei do começo ao fim e fez-me sentido de forma profunda, pois fez parte da essência de crenças que formataram o que sou como escritora e artista.
Eis o que a série pôde ensinar:
- Em algum momento, aquele ator ou atriz nem sempre vai ser do gosto unânime do público., onde podem surpreender e fazer melhor do que se espera do personagem.
- Houve certas mudanças no roteiro que deixou-a mais “televisiva”, mas que ao gosto do fã, ficaram estranhas.
- Há situações em que na HQ a poética da narrativa é mais bonita (digo no aspecto e linguagem visual de HQ)
- Na película, certas situações que são melhor resolvidas, mas por ser uma série para tv, os recursos não são tão avançados como se fosse para cinema geral.
- Não dá para se apegar o que na HQ como os personagens eram. A escolha de ser negro ou de outro gênero podem ter resultados “interessantes”. Algumas nem tanto.
- A escolha do ator como Sandman foi bem acertada, com a languidez da melancolia que o personagem possui. Faltou um pouco de mais “firmeza” de presença, para denotar mais autoridade em seu papel no imaginário humano.
- Certas mudanças no roteiro, pareceram mal costuradas e com soluções um tanto “boazinhas” ou que não convenceram.
- Haverá sempre um fã ou uma pessoa que nunca assistiu esse tipo de série, não estar satisfeito com o conceito da série.
- Não importa o tempo que se passe, se a obra sobrevive a conceitos e tendências de modinha, e ainda ser uma história com sua mítica de encanto, mostra que ela vai ser eterna e que conquistará mais apreciadores a cada geração que vier.
- Não é preciso ter super poderes e usar um uniforme e capa, para alterar o mundo desperto e do imaginário dos seres vivos.
Apesar de ter aspectos negativos, no geral a conceitualização da série e a transposição das histórias para a tv, não fizeram perder a essência do que ela é. Mesmo quem é fã, ficou no meio termo, de engolir a frustração de ver algumas mudanças que não ficaram tão boas, a de ver finalmente uma produção bem feita, além da oportunidade de esfregar na cara das gerações mais novas uma História em Quadrinhos que valia pena colecionar, e que nem sempre precisava de um sujeito de colant e capa para salvar o mundo. Ou de destruir de tal forma onde nenhum ser desperto poderia realizar.
Espero escrever outro artigo com o comparativo da concepção visual original, com o que foi feito nessa série para o Netflix.
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