O problema de autores novos e Trilogias

Novamente, para quem não me conhece meu nome é Gianpaolo Celli e eu sou escritor, editor, tradutor e leitor crítico profissional. E hoje eu vou falar da questão das TRILOGIAS.

Sempre que eu ouço um escritor, especialmente um iniciante, falar que está escrevendo uma trilogia, eu tenho vontade de gritar!

Isso, na verdade, me lembra um conselho que recebi de uma professora de inglês no colegial. Na época eu gostava de responder as questões das provas de inglês do modo mais complexo possível. Duas ou três linhas quando às vezes uma resposta simples bastava. Um dia, após ver que a nota da minha prova havia sido mais baixa do que eu esperava, ela me chamou e disse “Você escreve demais e por isso comete erros que me obrigam a tirar seus pontos.” E completou “Você quer desenvolver, faça isso em aula. Na prova seja o mais simples e direto possível.”

Para os autores que estão começando, meu conselho é o mesmo: “seja o mais simples e direto possível!” A última coisa que um editor quer ouvir de alguém que ainda não tem um livro lançado é “eu tenho uma trilogia”.

Você até pode dizer que já ouviu escritores falarem que profissionais ligados ao mercado editorial estão indicando a seus assessorados a fazerem trilogias. Eu mesmo recentemente ouvi um autor comentando que recebeu uma “dica” dessas.
A essas pessoas eu respondo: Tenha cuidado!
Verifique qual é o objetivo deste profissional em te falar isso. Porque dizer que uma editora por demanda, ou uma que aceite “coedição” (quando o autor paga por parte da edição do livro) e cobre o bastante para não só a edição, mas o lucro dela (e muitas vezes a do profissional que te indicou), aceita, não quer dizer nada!
Neste caso, afinal de contas, a publicação já foi paga pelo autor. Assim, se o “retorno” das vendas vier em uma década, não importa, pois o custo, e fala sério às vezes até um bom lucro já foi conseguido com o pagamento do autor.

Pense. Você ainda não tem um público cativo, muitas vezes ainda nem sabe trabalhar uma trama complexa com tramas e subtramas para a história de um livro e alguém te fala para fazer uma trilogia?!

E o pior: sabe o que acontece quando não o editor, mas o leitor vê um livro que parte de uma trilogia? Especialmente de um escritor não muito conhecido? Ele pensa: “vou esperar sair pelo menos o volume dois para me garantir”.
Primeiro: porque ninguém gosta de ficar esperando a continuação após acabar o livro.
Depois, como já até aconteceu comigo (e com um autor internacional que não vendeu o tanto que a editora esperava), se a editora desistir ou demorar a lançar o segundo volume, porque o primeiro vendeu pouco, e você leitor gostou da história, você ficará decepcionado.

O resultado então é que a maioria dos editores têm consciência de que o primeiro livro de uma trilogia dificilmente vende. Especialmente no caso de autores desconhecidos.
Até porque na maioria dos casos o autor vem só com o primeiro livro, não a trilogia toda pronta. E se ele demorou para escrever um livro, imagine o quanto demorará para escrever três?!

Nesse ponto muita gente vai dizer que vários grandes sucessos, como Jogos Vorazes, são trilogias ou mesmo séries maiores, como Harry Potter.
A isto eu responderei: NÃO SÃO NÃO!!
No caso do Harry Potter, apesar de os sete livros que contarem sete anos da vida do protagonista a história de cada ano se fecha a cada volume, de modo que não é um arco fe história só, mas uma série de arcos de histórias que descreve uma história maior.
No caso de Jogos Vorazes, se você ler o livro, ou mesmo ver o filme, perceberá que, ao contrário do que acontece no segundo volume, a história do primeiro é fechada. Tem um final aberto (deixa elementos da trama em aberto para uma possível continuação da história) sim, mas isso não quer dizer a trama não se feche nela mesma.

Assim, tente ser humilde e comece a criar seu público da maneira mais simples, com um livro de história fechada. Depois, quando você for conhecido e tiver nome no mercado, assim como experiência em escrever, você publica uma trilogia, ou aqueles tijolos de 600 ou 700 páginas, que também são livros que alguns autores mais novos costumam escrever, uma vez mais sem a devida experiência ou sem ter a ferramentas para isso.

O LIVRO, afinal de contas, É UM PRODUTO! Imagine se alguém viesse te vender uma calça, mas só apresentasse metade dela, e você não tivesse garantia que a outra metade seria vendida. Você compraria? Não né?! Então pense como se você fosse o leitor antes de se tornar autor.

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